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Danilo Reis: “Paloma Dreams”, a eterna Miss Gay de União

Danilo Reis: “Paloma Dreams”, a eterna Miss Gay de União

O primeiro concurso de Miss Gay de União

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*ESCRITO POR DANILO JOSÉ REIS 

Esta coluna é publicada todas as segundas-feiras.

Paloma Dreams, eterna Miss Gay de União (Foto: Arquivo)

 

Concursos de beleza sempre fizeram parte do cotidiano social unionense, pelo menos até um passado não muito distante. Eles movimentavam bastante a “society” local. União aliás, foi “terra de muitas misses”. Nos anos 1960 duas conterrâneas chegaram ao topo da beleza piauiense vencendo o tradicional concurso de Miss Piauí. Mais recentemente, Maria José Melo venceu a edição de 1996. Os concursos mais tradicionais eram os de miss, rainhas e princesas.

Porém dentre essas emocionantes “disputas” uma em especial chamou bastante atenção. Um ano antes de Maria José ser coroada Miss Piauí, União testemunhou um concurso de beleza “diferente”, que deu muito o que falar. Em 1995 foi realizado o inédito e “polêmico” Miss União Gay, evento que atraiu muitos holofotes e causou um grande frenesi na população. Incomum para a época, ele ia de encontro com a objeção que a homossexualidade ainda causava em muita gente.

Paloma Dreams, miss União Gay 1995. Foto da ocasião da entrega do título de Eterna Miss

(Foto: Instagram Piquete)

 

Nesse momento surgiu o nome de Claudiomar Alves, um encorajado jovem que decidiu enfrentar essas adversidades e preconceitos. Usando o codinome Paloma Dreams  (Sonhos), logo ganhou visibilidade. Nascido no ano de 1975, em União, foi na infância que descobriu sua homossexualidade. Na juventude resolveu se assumir e enfrentar os desafios que isso causaria. Quando surgiu a oportunidade da realização do concurso, Paloma – já assim chamada, resolveu  “mergulhar” nessa ideia.

Como já dito, o evento foi muito badalado, impactante, e aguçou a curiosidade de muitas pessoas. Para muitos ele quebrou um grande tabu que reinava há bastante tempo na cidade. Ele foi idealizado e organizado pela própria “Paloma” junto com outros homossexuais da cidade, entre eles o de nome “Antônia Veiga”. Segundo Claudiomar, eles contaram com o apoio de muitas pessoas. Destaca ele seus colegas do Colégio Padre José de Anchieta  (Paloma estudou na referida escola por dois anos); dos artistas plásticos Hermógenes Ribeiro e Ostiano Machado, dentre outros. O concurso aconteceu no dia 27 de setembro de 1995 na extinta palhoça Prisma Danceteria, na Rua Sete de Setembro.

Ana Maria Gonçalves, Miss Piauí 1967 - (Foto: Instagram Piquete)

 

Foi uma noite de gala e de muita repercussão. O evento teve a locução do competente colunista social Daniel Cardoso e contou com a animação da banda de forró Gota Mágica. Ainda de acordo com Claudiomar, ele atraiu muita gente. O espaço ficou pequeno para tanto público. Destaca ele que o “ingresso” era 1 kg de alimento não perecível.  Muitos dos que não conseguiram entrar, buscavam outros meios para dá uma “espiadinha”. Ele revela: “muita gente chegou a subir no muro pra assistir o desfile...ficou muita gente pelo lado de fora”.

Para o concurso se inscreveram 4 concorrentes. Além de Paloma e de Antônia Veiga havia mais dois. Porém, na véspera do evento houve duas desistência. Acredita-se que elas tenham ocorrido devido a carga emocional que o acontecimento trazia, sobretudo em relação ao intenso preconceito. Restaram então duas concorrentes: Paloma e Antônia (já falecida). Foi decidido, por aclamação, que Paloma Dreams seria eleita a primeira miss da beleza gay de União, e assim aconteceu. Coroada, Paloma passou por cima da rígida aversão que algumas pessoas nutriram pelo evento. Foi o preâmbulo para que outros viessem acontecer. Ainda em 1995  ele teve a chance de representar União no Miss Piauí Gay, que foi disputada no antigo Clube das Classes Produtoras, em Teresina. Porém, devido problemas de saúde na família, não pode participar.

No ano de 1996 ele se repetiu. Paloma repassou a coroa para Antônia Veiga, vencedora do concurso. Segundo Claudiomar, apesar de não ter atraído a mesma quantidade de público da primeira edição, ele já foi diferente: “não houve tanto preconceito como na primeira edição”, destaca ele. O concurso passou um longo período sem acontecer. Somente nos anos 2000 que ele reapareceu, e em formatos diferentes. Nesse período a cabeleireira Silvia de la Costa venceu o concurso. Porém, Paloma não “se aposentou”. Nesse intervalo ela participou de outros eventos. Chegou a ser escolhida por várias vezes “rainha gay do carnaval de União”, sempre desfilando no tradicionalíssimo bloco Os Gatões; desfilou nas extintas escolas de samba da cidade e  interpretou Carmem Miranda no concurso Beleza Regional, realizado no Ginásio Filinto Rego.

Paloma passou por estágio crítico na sua vida pessoal, mas que sem tardar conseguiu se reerguer. A volta por cima se deu em 2010, quando a mesma praticamente renasceu “das cinzas”. Como dizem que rei ou rainha nunca perda a coroa, por esse período ela  foi homenageada com o titulo de Eterna Miss Gay de União, oferecido pelos organizadores da primeira parada da diversidade da cidade.

Claudiomar Alves, hoje micro empreendedor (Foto: Arquivo)

 

Aos 45 anos, hoje á conhecida Paloma das Castanhas – a mesma e eterna Dreams, continua cumprindo com o seu papel de Miss. Tornou-se uma verdadeira embaixadora das belezas e riquezas naturais do município, sempre divulgando o que União tem de melhor. Claudiomar Alves é a prova viva que se pode sonhar e vencer todos os desafios. Como diz o jargão: Vida longa a eterna rainha gay de União!

Claudiomar Alves em Fernando de Noronha, 2018. (Foto: Arquivo)

Nas dunas da Ilha da Posse (União), 2020. (Foto: Arquivo)

 

Informações coletadas com Claudiomar Alves – a  Paloma Dreams

 

*DANILO JOSÉ REIS é historiador e membro do grupo de pesquisa Piquete Explorador do Estanhado.

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