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Vanessa Diniz: A história da moda em Lagoa Alegre

Vanessa Diniz: A história da moda em Lagoa Alegre

Na coluna desta quinta-feira o Projeto Lagoa Alegre Memórias fala sobre como o vestuário dos habitantes do município refletiu - e ainda reflete - a cultura e o costume local.

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Esta coluna é publicada todas as quintas-feiras.

 

Há séculos, mais especificamente na pré-história, a criação da vestimenta foi se consolidando com o objetivo de proteger o corpo do frio e de insetos indesejados, tempos depois foi tomando atribuições morais de pudor, sendo necessária para cobrir as “vergonhas” à mostra. No entanto, as vestimentas acompanham estilos, necessidades e tendências variadas em diversas partes do mundo, sempre atendendo as mudanças e expressões culturais de cada povo.

Buscando explorar o mundo da moda em Lagoa Alegre da década de 70 à atualidade, pontuaremos aspectos interessantes do vestuário e gostos da época, além de refletir sobre posição social e a persistência de algumas dessas tendências.

Nas décadas de 70 e 80, o estilo hippie estava em alta em todo o Brasil, as calças jeans, blusas de veludo, tachinhas e miçangas eram febre. Os lagoalegrenses não ficavam fora das tendências. Na época, era comum muitos cidadãos vestirem calças boca-de-sino, blusas listradas e cheias de estampas. Algumas moças adoravam os vestidos rodados, que deixava o corpo modelado e possuía um decote muito discreto.

Moças de vestidos rodados na década de 70, no povoado Lagoa Alegre. Arquivo: Lagoa Alegre Memórias

No tempo, a criatividade para customizar as roupas tomava conta dos jovens e daqueles que gostam de seguir o estilo em vigor. Segundo Mundica Borges, tingir as roupas era um processo muito divertido, ela escolhia uma peça de uma única cor e amarrava duas tiras em cruz por volta da roupa, logo depois tingia de cores variadas e, a roupa ficava com um novo aspecto, totalmente colorida.

Mundica Borges trajando um conjunto listrado.

À época, as costureiras mais famosas da cidade eram a Moça Branca e sua filha Juliana, ambas costuravam sob encomenda, como muitos dizem. Elas eram costureiras ‘’finas’’ e se baseavam em modelos tirados de revistas. Os que não tinham como comprar, ou encomendar, acabavam usando roupas feitas por suas mães, ou aprendiam a costurar sozinhos, o importante era ficar de acordo com a última moda.

As crianças não ficavam a parte, em meados da década de 80 era comum os meninos vestirem shortinhos de pano acima do joelho, camisas e tênis coloridos, já as garotas, usavam vestidos bordados e bastante rodados e outras peças como shorts jeans e blusinhas de pano mole.

Meninos vestem shorts de pano, vestes características da época.

Menina desfila na praça central de Lagoa Alegre na década de 90.

No início dos anos 90, explodia no Brasil muitos sucessos sertanejos como Leandro e Leonardo, Chitãozinho & Chororó, Zezé de Camargo & Luciano e muitos outras duplas famosas que, além de influenciar no estilo musical, acabavam ditando moda e se tornando referência para muitas pessoas. O estilo predominante era a famosa calça cintura alta com um cinto afivelado e botas de couro ou tênis, além das blusas de manga compridas ou curtas. As saias cintura alta não ficavam de fora, muitas vezes eram usadas como conjuntinhos coloridos e florais.

Moças em calças cintura alta e tênis, às margens da lagoa.

De acordo com o relato de Solimar Gomes, sua principal referencia era a cantora Roberta Miranda, pois “usava calças apertadas com detalhes de tachinhas brilhantes nas laterais, botas de couro de cadarço e blusas de manga longa’’. Ainda em sua fala, menciona que o estilo era sertanejo raiz.

Solimar Gomes, adepta do estilo sertanejo raiz, na década de 90.

A moda sempre vai se modificando e mostrando novas características, no final dos anos 90 entra em linha as blusas ‘’tomara que caia’’ que possuíam o nome devido a peça não ter alças para segurar nos ombros.  As calças de cintura baixa, deixando a vista a barriga, também se faziam muito presentes entre os jovens, que até os anos de 2004 ainda tinha seus amantes. Além das blusas de alça com decotes mais cavados, que eram indispensáveis no guarda roupa feminino. O estilo masculino predominava em torno de calças pouco folgadas e camisas soltas. Muitos optavam por vestir a camisa semiaberta, deixando a mostra partes do peitoral, além do uso de colares grandes e bonés.

Valdene, Mercês e Eva em trajes típicos da época.

Evaldo em camisa semiaberta, uma tendência daquele período.

Atualmente, a moda é bastante variada, desde shorts muito curtos a vestidos muito longos, abrindo um leque de estilo e gostos para todos. No entanto, podemos observar que entre os jovens, a moda hippie, o estilo vintage e as calças de cintura alta estão retornando com força e mostrando que algumas vestimentas são atemporais.  

 

*Vanessa Diniz é estudante de história pela Universidade Estadual do Piauí e editora da página Lagoa Alegre Memórias no Facebook.

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