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Banditismo e politicagem no interior unionense: Notícias do Cangaço

Banditismo e politicagem no interior unionense: Notícias do Cangaço

Leia a coluna de Thiago Inácio excepcionalmente publicada nesta quarta-feira (29/07)

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*ESCRITO POR THIAGO INÁCIO 

Esta coluna será publicada todas as terças-feiras.

Jornal O Piauí / 1947 (Foto: Arquivo/Danilo Reis)

O período entre 1946 e 1950 corresponde a um período de transição: a queda da ditadura Varguista - dito Estado Novo - e a redemocratização, a chamada República Populista que se estenderá até 1964.

Historicamente - e em qualquer lugar do mundo - transições são em si momentos de agitação, dissociações e coalizões. Foi deste imbróglio que dois grupos políticos se estabeleceram no âmbito nacional: o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN), dando cabo a uma disputa que marca a história política brasileira em suas diversas esferas, seja ela federal, estadual ou municipal.

Em União, os opositores do regime Varguista, UDN, encontraram sua liderança diluída nas figuras de Francisco Narciso da Rocha, Carlos Monteiro, Eudóxio Mello, entre outros. Enquanto o partido pessedista tem sua representação na família Alencar, e em nomes como Eulálio Costa e Potrásio Oliveira.

A disputa pela hegemonia no município e as incertezas do momento político acabam por gerar uma onda de violência que se expandirá ao então povoado Lagoa Alegre e sua hoje localidade Vinagreira, encontrando no advento de grupos de pistoleiros sua personificação. Estes grupos, a despeito da queda do bando de Lampião, em fins dos anos 30, foi classificado pela imprensa local como "cangaceiros", não em razão de seus elementos estéticos, mas porque seu modus operandi era bastante similar ao grupo de Lampião. Atuavam em todo o território unionense, e também no município vizinho, Miguel Alves.

O crime de maior impacto ocorreu no povoado Vinagreira, epicentro de vários delitos cometidos pelo grupo, marcando dramaticamente as páginas de jornais locais, como "O Piauí", que noticiou o terrível crime aos dez dias de Novembro de 1947, dando conta que "em dias do mês findo, o terrível desordeiro Sesostris Muniz Coelho (vulgo Póte) e mais alguns capangas romperam a escuridão da meia noite, em Vinagreira, com um incêndio na casa de Joel Lopes que, atordoado, sai às carreiras com a família, penetrando no matagal vizinho".

Após atingir o dito no braço, que ainda assim consegue escapar, os "cangaceiros", na pessoa de Marcelino Alexandre - de David Caldas - tentam incendiar a casa de João Batista de Oliveira, no mesmo povoado. Segundo o periódico, "o grupo que perseguia Joel, deparando-se com um vulto por detrás da casa de João Batista, faz fogo contra o mesmo", acertando miseravelmente seu próprio companheiro, que "após curta carreira, cai por terra pedindo Socorro".

Reconhecida a voz do capanga, seus companheiros para não serem descobertos, apesar da súplica do atingido, cortam-lhe o  pescoço com  própria faca, terminando a operação quebrando-lhe as articulações.

(Foto: Arquivo)

Ao amanhecer do dia, no lugar Vinagreira, sob a luz matinal, é já encontrado o horrível corpo sem cabeça, que se encontra sepultado no cemitério daquele povoado como indigente.

Este grupo de bandoleiros vigorou no interior unionense por cerca de cinco anos, sendo referidos pela mídia como "feras da Vinagreira", e sendo atribuído aos mesmos diversas malfeitorias desde ataques pessoais, saques, incêndios, até assassinatos.

Os crimes do bando que aterrorizou Lagoa Alegre e região na segunda metade da década de 40 foram logo atribuídos a interesses políticos de ocultos, dando início aua estado de acusação contínua de um e de outro, situação e oposição. Assim, era comum que os ataques dos grupos de cangaceiros pelos interiores do município fossem atribuídos ao mandado do prefeito em exercício Eulálio Costa, e - mais tardar - ao seu opositor e substituto na prefeitura unionense José Lopes de Melo.

*Thiago Inácio é estudante de Antropologia pela Universidade de Brasília

e editor da página Lagoa Alegre Memórias no Facebook

 

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