Danilo Reis: Na velha republicana União, deu briga de Vim-Vim com Gavião
Coluna de Danilo José Reis desta segunda-feira (01/06) mostra a história dos jornais ligados as poderosas famílias de políticos unionenses. Leia;
*ESCRITO POR DANILO JOSÉ REIS
Esta coluna é publicada todas as segundas-feiras e trás a história, os fatos, os mitos e as polêmicas do município de União (PI).
A participação do jornalismo no jogo político unionense não é de agora, hoje visto através de portais e nas redes sociais. Na longínqua União das primeiras décadas do século passado, as rinhas políticas-partidárias se davam através dos jornais impressos, criados, sobretudo para expor ideias de determinados agrupamentos políticos, e para desgastar a imagem dos adversários. Em União, isso vem desde meados do século XIX.
Arquivo público do público do Piauí guarda uma edição do jornal "O Vim Vim", criado pelo unionense Fenolon Castelo Branco (Foto: Arquivo/Piquete Explorador)
Contudo, a partir do alvorecer do século XX a cidade ganhou os seus primeiros jornais, tendo essas mesmas características. O primeiro deles foi o "Uniense" (1906), sucedido pelo "O Estanhado", fundado dez anos depois pelos "Agneis", munido justamente de fins eleitoreiros.
Agnelo Sampaio, o fundador, concorreu pela oposição, ao cargo de Intendente nas eleições de 1917, enfrentando o coronel Augusto Daniel, que era apoiado pela fortíssima oligarquia dos "Regos", poderoso grupo que já dominava as rédeas da administração local desde os tempos de monarquia.
O letrado Fenelon Castelo Branco, então ressentido com o grupo de Rego Filho, juntou-se aos Agneis e passou a escrever no jornal criticando, através de sonetos satíricos, o comando dos "Regos" a frente da Intendência ao longo do tempo.
Esse mesmo Fenelon, fundou seu próprio jornal com a mesma finalidade - "O Vim Vim", representado na figura do pequeno pássaro nativo, que segundo ele "demonstrava alegria e jovialidade ao cantar" sob a justificativa de "engrandecer sua querida União".
Da mesma forma Fenelon publicava textos satirizando a administração dos Regos na intendência Municipal (Prefeitura) desde o alvorecer da República.
O "Vim-vim" voava mais do que Condor e ocupava os céus de União no topo da cadeia alimentar do jornalismo combativo eleitoreiro.
No entanto, não tardou para os voos de o "Vim-vim estarem ameaçados.
Imagem relaciona os pássaros com os respectivos donos (Foto: Arquivo/Piquete Explorador)
Motivado pela disputa política nos jornais, logo um grupo de jovens, apoiado pela oligarquia dos Regos, criou o jornal "O Gavião", com a finalidade justamente de "devorar o pobre 'Vim vim', que aguentou - embora derrotado nas urnas - a fúria faminta da ave de rapina e continuou alegre e saltitante, evocando seu canto.." (Homero C.B Neto, 2019)
Nas eleições de 1917, o "Estanhado" e o "Vim-vim", não foram pareôs para o "Gavião". A oligarquia Rego continuou no comando passando o bastão para o seu representante, o industrial Augusto Daniel.
O "Vim-vim", e o "Gavião", hoje só encontramos nos céus, assim como o "Estanhado", que é lembrando quando tratamos da nossa fundação.
Porém, a política retratada por essas velhas gazetas continuam bem vivas, alimentando o folclore político unionense.
*Danilo José Reis é professor e membro do grupo de pesquisa Piquete Explorador.