Danilo Reis: Riacho dos Cavalos, o riacho dos “currais”!
O riacho que proporcionou o surgimento de dezenas de fazendas, sítios e vivendas.
*ESCRITO POR DANILO JOSÉ REIS
Esta coluna é publicada todas as segundas-feiras e trás a história, os fatos, os mitos e as polêmicas do município de União (PI).
O “Riacho dos Cavalos” é um dos importantes cursos d’água que cortam o interior do município de União e desemboca no Rio Parnaíba. Ele nasce no interior do município de José de Freitas, na altura da localidade Engenho Velho – adjacências do Açude Bezerros, e desemboca há algumas dezenas de quilômetros a frente, na chamada “barra do Riacho dos Cavalos”, dentro dos nossos limites. Da nascente ate sua foz, o riacho serpenteia serras, morros, atravessando trechos de floresta nativa e canaviais. Ruma de leste para o oeste até chegar na sua desembocadura. Nesse percurso o “Cavalos” se multiplica em vários braços, formando uma micro-bacia que pereniza boa parte da área ao sul do município de União. Além das nascentes, ele também é alimentado por outros pequenos cursos de água, entre eles os riachos da “Gangorra” e “Sapucaia”. Todos esses fatores, somados a proximidade com o rio Parnaíba, deram ao riacho condições para o assentamento das primeiras fazendas na região.
"Barra do Riacho dos Cavalos, Morada Nova" (Foto: Acervo do Piquete)
A gênese do nome “Riacho dos Cavalos” ainda é uma incógnita, mas se acredita estar atrelado ao surgimento das primeiras fazendas de gado – vacum e cavalar – instaladas nas suas margens, provavelmente na virada do século XVIII para o XIX. Sobre essas margens, nasceram os primeiros currais, atraídos pela oferta de agua em abundância e por sua localização estratégica, nas proximidades do Rio Parnaíba. Dessa forma, rapidamente o “vale” dos Cavalos passou a ser ocupado e povoado. Por esse período, tudo indica que o riacho era um curso de água caudaloso, perenizado durante todo o ano. Era um obstáculo natural para quem se deslocava por terra do Estanhado (depois União) para Teresina. Em épocas de cheia era necessário fazer um longo contorno para encontrar uma passagem segura, empecilho que as vezes retardava bastante as viagens. Somente nos anos de 1860 foi que o presidente Província construiu a primeira ponte sobre o riacho, a fim de facilitar o tráfego.
Contudo, é do início dos “oitocentos” a instalação de uma das primeiras fazendas da região – a Fazenda Havre de Grace (para muitos “Ave de Graça”), situada as margens do riacho, pertencente a um padre de nome Silvestre, poderoso fazendeiro oriundo do município de Caxias (MA). Além dele, instalou-se também no mesmo “vale” o fazendeiro Tome do Rego Monteiro, que instalou uma feitoria na margem direita do riacho, há 6 km da “barra”, trazendo consigo muito gado, montaria e escravos. A feitoria se chamava “Gameleira”, e seria o embrião do primeiro agrupamento populacional da região, o hoje povoado David Caldas. Tanto Tomé (pai do Barão de Gurguéia) como o padre Silvestre disputariam o deleite daquelas terras, contenda que terminaria em tragédia. O fato é que rapidamente foram nascendo outras fazendas nas proximidades do riacho, propriedades em sua maioria dedicadas a criação de gado vacum e cavalar. Nasceram as fazendas Bom Jesus das Pedras; São João; Santo Antônio; Monte Castelo, Cercadinha; Bom Princípio; Sapucaia; Tara; entre muitas outras, algumas delas dando origem a pequenos povoados. O “vale do Riacho dos Cavalos” era tão importante que foi utilizado na implementação do primeiro projeto colonizador do Piauí, criado a partir dos anos 1870. Em 1874 foi criado o “Núcleo de Migrantes Santo Antônio”, posteriormente “Colônia Gameleira”, com a finalidade de alocar os flagelados fugitivos da grande “seca de 1877” que chegavam “aos montes” na região. Os currais de gado se transformaram em “Currais humanos”, dando inicio ao processo de povoamento “planejado” na região.
Da nascente até sua barra, o “Riacho dos Cavalos” foi essencial para o sustentáculo de muitos currais, se transformando em sinônimo de colonização e desenvolvimento. Não é por acaso que até um passado não muito distante, toda a região hoje conhecida como “grande David Caldas” era denominada de “Riacho dos Cavalos”. A substituição do nome só veio a partir de 1913, com a instalação de um “Centro Agrícola” denominado “David Caldas”.
Já destacava em 1912 o engenheiro agrônomo Leonardo Pereira, responsável pelo estudo de viabilidade do Centro Agrícola:
“Este riacho tem desenvolvido nas terras de 13 quilômetros, sempre na direção S.N. e N. O. Há inúmeros braços e lagoas que beneficiados e feitas barragens riachos e braços, servirão otimamente”.
Infelizmente hoje, esse importante curso d’água, tão importante para o processo histórico e colonizador da região, se encontra em estágio de desaparecimento, devido ao assoreamento e outros impactos ambientais causados pela monocultura da cana de açúcar, que desde 1979, tem ocupado toda a extensão do riacho.
O Riacho dos Cavalos carrega consigo traços do passado e sedimentos da História!
VEJA MAIS FOTOS;
"Vale do Riacho dos Cavalos" (Foto: Acervo do Piquete)
Rio Parnaíba, próximo a foz do Riacho dos Cavalos (Foto: Acervo do Piquete)
Trecho do Riacho dos Cavalos, na Gameleira, 1913, utilizado para a lavagem de roupa (Foto: Acervo do Piquete)
*Danilo José Reis é professor e membro do grupo de pesquisa Piquete Explorador.