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Danilo Reis: 22 de Maio de 1932: o dia que União ganhou uma "santa"!

Danilo Reis: 22 de Maio de 1932: o dia que União ganhou uma "santa"!

Confira a coluna de Danilo José Reis desta segunda-feira, 25 de maio de 2020.

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*Escrito por Danilo José Reis 

Há 88 anos, era assassinada covardemente pelo marido a jovem Isabel, casada com João Sampaio, residente na localidade Unha-de-gato, hoje Milagres, zona rural de União. O crime foi motivado pelos ciúmes desenfreados do marido, muito mais velho do que a esposa, que a maltratava e violentava bastante.

Cemitério Vellho de União (Foto: Danilo José Reis/Arquivo Pessoal)

Sampaio tirou a vida da companheira lhe desferindo oito facadas, após a mesma ter ido denuncia-lo ao "delegado" da região, o fazendeiro Absalão Rodrigues. Ao  ficar sabedo da denúncia, ele resolveu espera-la no caminho de volta para casa, e assim o fez. Além de assassinar a mulher também matou o filho que ela esperava. O crime com requintes de crueldade martirizou a jovem, a transformando rapidamente em uma "alma milagrosa", a Santa Isabel dos Milagres, cultuada por muitos catolicos unionenses.

Os sinais da "santidade" de Isabel teriam dado início logo após o corpo sair em cortejo para ser sepultado em Uniao. O cortejo de Mussum ate Uniao foi todo feito a pé. O corpo foi posto numa rede e amarrada em uma estaca, carregada por homens que iam se revezando no meio do caminho - exceto João, o "carrasco", que como castigo carregou por todo o percurso sem descansar. De acordo com a versão  (ou pelo menos uma delas), nesse trajeto a "mártir" teria dado os primeiros sinais de sua miraculosidade. Uma gota de sangue teria pingado num lajeiro no meio do caminho, e logo depois se transformado em uma formosa flor! O cheiro de rosas que exalava do cadáver também teria sido outro desses sinais. Contudo, o maior mistério envolvendo Isabel, talvez jaz no pós sepulcro, quando o seu corpo teria se expelido por mais de uma vez da cova. Após ser sepultada - acredita-se que no "cemitério velho" - no dia seguinte o corpo teria aparecido sobre a cova, "sendo cuspida literalmente pela terra", fato que se repetiu por alguns dias subsequentes. Esse  teria sido mais um dos sinais. 

O fato atraiu a atenção de toda a população, sobretudo da autoridade policial e religiosa da cidade. O mistério pairou sobre União.

1932, era ano de seca "braba", de crise econômica, e desajustes na política local. Diante de todos os fatos, e da suposta miraculosidade da alma de Isabel, o corpo desapareceu, ou alguém teria o homiziado. A desconfiança caiu sobre o padre - Cícero Santos, acusado pelo sumisso com o corpo afim de evitar qualquer tipo de peregrinação em torno do túmulo. Desde então, não se soube o que foi feito com seus restos mortais.

Apesar disso a lembrança de Isabel continuou viva. A  história foi passando de geração para geração, permanecendo firme no imaginário e na fé do catolicismo cabloco do unionense.

No local do assassinato, foi construída uma pequena capela, talvez fruto de alguma "graça" alcançada pela interseção de Isabel. Lá é possível encontrar muitos ex-votos, oferendas, e outros símbolos de agradecimento. 

Não se sabe que fim levou o viúvo assassino, ou o que foi feito dele. O padre, acusado de esconder o corpo, faleceu quatro anos depois, quando fazia desobrigasno interior do município.

Apesar do não reconhecimento por parte da Igreja Católica,  Isabel, continua sendo a  Santa Isabel dos Milagres dos católicos unionenses.

VEJA MAIS FOTOS;

(Foto: Danilo José Reis/Arquivo Pessoal)

(Foto: Danilo José Reis/Arquivo Pessoal)

(Foto: Danilo José Reis/Arquivo Pessoal)

(Foto: Danilo José Reis/Arquivo Pessoal)

*Danilo José Reis é professor e membro do grupo de pesquisa Piquete Explorador.

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