Danilo Reis: 14 de setembro - o dia do Embate dos Baixões
Hoje se completam 180 anos de um dos maiores combates da Balaiada no Estanhado.
Registro do sepultamento do major Manuel Clementino de Sousa Martins na capela do Estanhado
(Foto: Danilo Reis/Arquivo)
Esse ano, completam-se 180 anos de um dos confrontos mais emblemáticos da história da Balaiada no município de União: o embate dos Baixões, travado em 14 de setembro de 1839. Nesse momento da História, União (então povoado) se via “sacudida” por uma das revoltas mais importantes do Brasil Império: a Balaiada. Também chamada de Guerra dos Balaios, ela foi uma das insurreições mais sangrentas de todo o período da Regência (1831-40), momento em que o império brasileiro fora governado por juntas administrativas. Foi um período em que rebentou uma série de revoltas por todo o território nacional.
A Balaiada (1838-41) foi deflagrada no Maranhão em dezembro de 1838, fruto da insatisfação popular diante dos desmandos políticos dos fazendeiros da região e da disputa de dois grupos políticos reacionários: os bem-te-vis (liberais) e os cabanos (conservadores). Somados a isso ainda se tinha a insatisfação com a “lei dos prefeitos” e com o recrutamento forçado, que prejudicava sobretudo a população mais pobre.
(Foto: Reprodução/Instagram)
Após desencadeada, a Balaiada rapidamente ganhou força e se espalhou por todo o Maranhão, chegando também nas províncias do Piauí, Ceará e Bahia. A vila de Caxias, então a mais importante do interior do Maranhão foi atacada e invadida por milhares de revoltosos, que a mantiveram sob seu comando durante dois meses. Foi um momento de muita tensão, sobretudo para as localidades adjacentes.
A localização geográfica do Estanhado (União) se encaixava nesse “quesito”. Não demorou muito para que o lugarejo se tornasse um chamariz para os sediciosos maranhenses. Após a retomada de Caxias, ocorrida em agosto de 1839, as atenções dos rebeldes se voltaram para a província do Piauí, sobretudo para as vilas e lugarejos ribeirinhos. Diante disso, o governo da província instalou uma série de pontos militares com a intensão de proteger a margem direita do rio. O objetivo era barrar a tentativa de entrada dos balaios vindos do Maranhão. No Estanhado foram instalados alguns desses aparatos, sendo o mais importante a Coluna do Norte, criada em maio de 1839 com a finalidade de concentrar as forças repressivas do norte da província. Para o seu comando foi arregimentado o experimentado major Manuel Clementino de Sousa Martins..
Apesar da tentativa do governo piauiense de barrar a entrada de rebeldes, ela acabou acontecendo. Em setembro de 1839 os balaios já tinham conseguindo “romper as defesas” e se encontravam ocupando as duas margens do rio. O conflito, já era irremediável. É no mês de setembro que se registra o primeiro confronto em terras unionenses, ocorrido no dia 05 na localidade Melancias. Na ocasião, homens do revoltoso piauiense Lívio Lopes Castelo Branco aprisionaram e mataram alguns soldados governistas que faziam a segurança daquele ponto do rio.
Pronto! Á Balaiada já estava no Estanhado.
Entretanto, esse conflito foi apenas o preambulo do que viria logo em seguida. Ainda fruto desse primeiro “fogo”, as tropas de Manuel Clementino – a figura mais importante dos legalistas nesse momento, saíram ao encalço de Lívio Lopes, que se encontrava aquartelado em Santa Rita (Piauí) e em Conceição (Maranhão), ocupando as duas margens. Clementino e seus homens alcançaram os revoltosos no dia 11 de setembro, onde deflagrou-se em Santa Rita um novo combate. Na ocasião, parte da bagagem de guerra dos balaios que se encontrava na margem direita foi aprisionada. Grande parte dos revoltosos que encontrava-se naquela margem atravessaram pro Maranhão para onde estava Lívio. Nos dias 11, 12 e 13 de setembro, balaios e legalistas se digladiaram em campos fronteiriços separados pelo Rio Parnaíba. O objetivo. ainda era, capturar Lívio.
Matas dos Baixões, na localidade Conceição (MA)
(Foto: Danilo Reis)
No dia 13, de Santa Rita Clementino transpôs o rio e acampou na margem oposta, na localidade Conceição. Os planos era pernoitar e atacar as “baterias” rebeldes logo ao amanhecer. Nessas alturas, os balaios haviam se dispersado, uns fugiram para Morro Agudo (reduto de Manoel Balaio) e outros para o lugar Baixão, uma mata densa localizada no centro de Conceição. No dia 14, conforme o programado, Clementino levantou acampamento e foi explorar as escusas selvas dos Baixões, conhecidas “palmo as palmo” pelo inimigo. Ignorando todos os perigos, ele adentrou na mata, onde já se encontrava entrincheirados muitos rebeldes. Um confronto foi deflagrado.
Em meio a fuzilaria de ambos os lados o astuto e “afobado” comandante-em-chefe foi alvejado por alguns tiros, entre eles um fatal que lhe atingiu o umbigo. Sabendo que seus ferimentos eram irremediáveis Manuel Clementino pediu a sua ordenança que o escondesse, e que não contasse aos homens a sua situação. O objetivo era que o combate continuasse. Em poucos minutos veio a sucumbir. Contudo, antes de vir a óbito, segundo os registros ele teria proferido algumas palavras de incentivo aos homens...”avancem camaradas, só vos peço que sejais constantes, e que me vingueis a morte: por morrer um homem não se perde a causa (...)”. Após a batalha seu corpo foi levado para Santa Rita onde de lá fora encaminhado para a Capela do Estanhado (atual Igreja Matriz) para ser sepultado
Manuel Clementino deu a vida “pela causa”, mas não conseguiu o seu intento, que era o de capturar o jornalista Lívio Lopes. Ele havia desertado da guerra ainda no dia 12, quando o comandante e seus comandados ainda tentavam atravessar para o Maranhão. Apesar disso, a morte de Clementino foi bastante sentida no Piauí, sobretudo por seu tio e padrinho Manuel de Sousa Martins – o Visconde da Parnaíba, presidente da Província do Piauí. O incidente mexeu com os ânimos de todos...
Após o embate os balaios tornaram a aparecer pelas cercanias, e agora ainda mais encorajados. O Estanhado tornou-se um campo minado para inúmeras conflagrações. Esse episódio, denominado de embate dos Baixões foi a primeira grande escaramuça travada em “terras estanhadenses”. Melancias, Santa Rita* (Piauí) e Conceição (Maranhão) estamparam as primeiras páginas da Balaiada no Estanhado. A revolta, definitivamente, aterrissava no povoado.
Êta Balaiada !
*incluem-se as localidades Bom Jesus e Riacho dos Cavalos (David Caldas) adjacentes as anteriormente citadas.