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Danilo Reis: 01 de agosto de 1973, o dia em que União acordou “sem prefeito”

Danilo Reis: 01 de agosto de 1973, o dia em que União acordou “sem prefeito”

Os unionenses acordaram sem Prefeito, e os emedebistas sem a Prefeitura

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(Foto: Criação/Danilo Reis)

A história político-administrativa de União é cheia de fatos e desdobramentos pitorescos. Já viu “Câmara” e “Prefeitura” suspensas; tentativa de impeachment; prefeitos e vices em litígio; vereador administrando; gestor impedido de assumir; e prefeito que abdicou. Pois é. Esse foi o caso do oitavo prefeito eleito pós-ditadura Vargas, Osvaldo do Rego Melo, do MDB. Ele foi eleito nas eleições de 1972, após mais de duas décadas assistindo o grupo da ARENA (antiga UDN) dominar as rédeas administrativas do município.

         Osvaldo do Rego Melo era um conceituado médico cardiologista unionense, filho do célebre Eudóxio Machado Melo, antigo líder do extinto PSD, e neto do poderoso coronel Dito Rego, o “Rego Filho” da linhagem dos Rego Monteiro. Ele se elegeu pelo MDB (antigo PSD) junto do comerciante Francisco Oliveira Sobrinho (o vice), tendo o apoio majoritário do pai Eudóxio Melo, e do deputado estadual Francisco Figueiredo. Foi um pleito disputadíssimo, isso porque  a colossal ARENA já vinha de sete gestões consecutivas (desde UDN), e prometia emplacar mais uma. Os arenistas lançaram o nome do ex-prefeito Gervásio Costa Filho – o grande favorito – que vinha de uma gestão muito bem avaliada entre 1959 a 1962. Tudo indicava que o grupo liderado pelo deputado estadual Bona Medeiros,  pelo deputado federal Ezequias Costa, e pelo então prefeito Carlos Monteiro emplacariam mais uma vitória.

Entrevista de Osvaldo Melo, pai de Osvaldo, após a confirmação da vitoria (Foto: insta:@piqueteexplorador)

         A campanha eleitoral foi bastante acirrada, marcada por provocações, comícios acalorados, e discursos “bombásticos”. Assim também foi na eleição e na apuração. A contagem dos votos foi disputadíssima, repleta de muita apreensão e reviravolta ao longo da apuração. Depois de muitas guinadas, o resultado final confirmou a vitória de Osvaldo Melo, colocando, enfim, a oposição na dianteira da política municipal. O trunfo foi muito comemorado, marcado por festejos e foguetórios, “um verdadeiro carnaval nas ruas de União”, como destacou a imprensa.

         No entanto, as comemorações pareciam ser preambulo das agitações que viriam logo em seguida. Do outro lado os ânimos continuaram bastante exaltados. Após o resultado a ARENA acusou os adversários de fraudarem as eleições, se utilizando do cartório de União. As severas imputações foram retrucadas da mesma maneira. O MDB acusou os derrotados de utilizarem cartórios “fantasmas” para alistar ilegalmente eleitores. Foi um grande escarcéu. A diplomação do novo prefeito chegou a estar em litígio por conta desses imbróglios, mas aconteceu em 01 de fevereiro de 1973, um dia após a data estabelecida. Temia-se, um boicote por parte da oposição. Osvaldo empossado, teria quatro anos para deixar uma boa impressão e afastar de vez o grupo opositor da Prefeitura Municipal. Todavia, os planos não saíram como o imaginado.

Osvaldo Melo, Francisco Oliveira, e Neném Prado, durante a campanha eleitoral  (Arquivo: Danilo Reis)

       O início da gestão Osvaldo Melo foi tão conturbado quanto a sua chegada a PMU. Não se demorou muito para enfrentar os primeiros problemas. Nos meses iniciais de governo, um grupo de professores o acusou de perseguição política, pelo mesmo ter transferido mais de quarenta deles para longe de seus domicílios. A contestação chegou a repercutir na tribuna da Assembleia LegislativaALEPI, através de um manifesto encaminhado pela classe. A seara foi bastante discutida entre os deputados Francisco Figueiredo (MDB), e Bona Medeiros (ARENA).

          Outra polêmica envolveu o ex-prefeito Carlos Monteiro. Ele acusou Osvaldo Melo de retirar alguns televisores instalados na sua gestão, no bairro São Sebastião e na Praça Barão de Gurguéia. Assim também teria ocorrido com 3.800 m/2 de calçamento, que seria usado na pavimentação de um trecho da Rua Padre Simpliciano. Além disso questões “extra-campo” incendiavam os ânimos locais. Em poucos meses de governo a gestão colecionava alguns desgastes.

Prefeitos que menos governaram (Foto: insta: @piqueteexplorador)

          Ainda saldo do período eleitoral, da tribuna da ALEPI o deputado oposicionista Bona Medeiros acusou o juiz de União por “ameaça de morte”. Francisco Figueiredo, do outro lado, retrucou as acusações. Isso elevou bastante as animosidades entre arenistas e emedebistas unionenses. Essas questões incendiaram tanto as rivalidades políticas que União chegou  ao ponto de ser manchete do jornal O Estado, com o seguinte título: “Vai explodir o barril de pólvora de União”.

          Em meio a tudo isso rumores apontavam para uma possível desistência do prefeito. Em junho a imprensa chegou a especular sobre uma possível renúncia, o que foi na ocasião totalmente rechaçada por ele. Contudo, cerca de um mês depois o que se imaginava se concretizou. No dia 30 de julho de 1973, após 182 dias de gestão, Osvaldo Melo renunciou do cargo. A notícia não pegou todo mundo de surpresa, mas surpreendeu o grupo emedebista de União. O médico alegou não ter tido encontrado condições para “dedicar-se intensivamente a vida pública e ao desempenho das funções do cargo de prefeito”, e optou pela carreira médica. O comunicado veio oficialmente dois dias depois, em 01 de agosto, através de uma carta – “Manifesto ao povo de União” – publicada no Jornal do Piauí. Nela, foram expostas as razões que levaram a sua abdicação – a primeira registrada na história politico-administrativa de União.

“(...) Lutei e continuarei lutando ao lado do povo, emprestando-lhe a minha colaboração e assistência de sempre. Não me foi possível, porém, concluir os deveres de meu apostolado profissional com as injunções e responsabilidades próprias do mandato.  O médico, modéstia parte, embora tenha se revelado administrativamente, não se encarnou no político, os dois não se harmonizaram, dada  a disparidade  dos fins a que se propõe (...) por essas razões, renuncio” – Manifesto ao povo de União. Jornal do Piauí, 01/08/1973.

        A saída da PMU foi um “balde de água fria” para os eleitores e apoiadores “osvaldistas”. O sonho de ver a “eterna oposição” no comando da prefeitura tornou-se “pesadelo”. Pelo que se fala, na época, a cúpula do MDB de União ficou muito abalada. O sonho da “oposição” não durou mais do que algumas dezenas de semanas. De fenômeno eleitoral, Osvaldo Melo tornou-se o “Jânio Quadros” de União. A curta gestão o impediu de realizar algum feito importante. O mandato foi passado ao vice, o comerciante Francisco Oliveira Sobrinho, também do MDB (logo em seguida afastado do partido), que concluiu o mandato. Nas eleições seguintes a prefeitura voltou para as mãos da ARENA , que deu continuidade a sua hegemonia política local.

      A Renúncia, foi mais um capítulo da alvoroçada trajetória político-administrativa de União.

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