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CIPÓ QUEIMADO: O primeiro cabaré de Lagoa Alegre.

CIPÓ QUEIMADO: O primeiro cabaré de Lagoa Alegre.

Leia a coluna da pesquisadora Vanessa Diniz publicada nesta quarta-feira (29/07)

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*ESCRITO POR VANESSA DINIZ 

Esta coluna será publicada todas as quintas-feiras.

(Arquivo: Lagoa Alegre Memórias.)

A prostituição é uma das profissões mais antigas do mundo. A forma como é praticada hoje, por troca de dinheiro ou mercadoria, tem origens desde as primeiras civilizações mesopotâmicas. Sua execução em várias regiões do mundo, vão tomando significados e enraizando características próprias. Em suma, trás consigo inúmeros tabus morais e sociais, que de todas as formas afetam diretamente na vida do indivíduo que a prática.

Lugares destinados ao ato sexual foram tomando forma por séculos, mesmo enraizado de estigmas, se sustentou nas entranhas das cidades e, por vezes, nos grandes centros urbanos, nesses casos eram contemplados bordéis luxuosos desfalcados de bares ou locais de dança.

As exceções aconteciam quando os estabelecimentos favoreciam uma classe de alto padrão. Contudo, não podemos deixar de dizer que os cabarés existiam para todas as escalas sociais, os mais humildes se encontravam nos subúrbios, ficando fora das vistas religiosas e da civilização "moral".

Grandes nomes de bordéis ou, melhor dizendo, cabarés,  se faziam na história. Podemos citar desde o grande Bois de Boulogne em París e Vila Mimosa no Rio de Janeiro, até a Paissandú em Teresina que se fazia um centro meretrício desde a década de 30. Não precisamos ir tão longe para mostrar a realidade e curiosidades de um cabaré, basta olhar um pouco para nossas cidades.

Ainda constituída como povoado, Lagoa Alegre possuía suas pequenas áreas meretrícias, que surgiam de maneira silenciosa e noticiada somente aqueles que usufruíram de seus "benefícios", ou seja, os homens.

Em 1968 se criou o primeiro bordel da cidade, intitulado de "Cipó Queimado". Segundo relatos, o nome foi concebido em razão de um incêndio proposital em volta da residência de algumas "mulheres da vida". Diz- se que uma mulher enciumada e a procura de seu marido que frequentava o local, tocou fogo nas matas próximas, com o objetivo de destruir o cabaré.

O antigo estabelecimento se localizava no hoje conhecido Bairro Piçarreira, mas que na época ainda não possuía nomeação, além de pouquíssimos moradores, pois a região ainda era coberta por um matagal.

Bairro Piçarreira na década de 80. (Arquivo: Lagoa Alegre Memórias.)

O fato de ser um ponto distante do "centro" e se manter por trás da lagoa, escondido entre as matas, favorecia a movimentação do cabaré que tinha seu maior fluxo de pessoas nos festejos de Dezembro, quando o povoado recebia maior contingente de visitantes.

O funcionamento do prostíbulo se fazia de maneira precária, de acordo com as dificuldades do tempo. Os homens chegavam ao local, bebiam e tiravam uma mulher para acompanhá-lo, em seguida, iam para um quarto, que possuía uma rede suspensa e uma bacia ao lado, servindo de lavatório ao fim do "serviço". O cliente ficava por um certo tempo com a prostituta, e logo dava lugar a outro.

As prostitutas não frequentavam regularmente os espaços centrais, à época as pessoas ainda deixavam explícitos seus olhares, pois as mesmas  poderiam desvirtuar ou o escandalizar as moças e mulheres de família.

Posteriormente, outros bordéis foram surgindo e adquirindo notabilidade, como o "Vinte Cinco" e "Vai Quem Quer".

*Vanessa Diniz é estudante de história pela Universidade Estadual do Piauí e editora da página Lagoa Alegre Memórias no Facebook

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